sábado, 31 de janeiro de 2015

XIV CONGRENAT


O homem tem que ser ensinado a ser mais emocional, pois é a partir do coração que segue o caminho em direção ao ser.



O CONGRENAT – Congresso Brasileiro de Naturismo que está sendo realizado nos dias 30 de Janeiro a 1º de Fevereiro de 2015 tem como tema principal “Não basta estar naturista...Tem que ser naturista”. Particularmente, penso que teria que ser mais específico, muito da falta de entendimento do movimento nudista/naturista está na forma como transmitimos seu objetivo. O “tem que ser naturista” implica uma obrigação em uma filosofia de vida de liberdade, são coisas antagônicas. O problema está na linguagem indevida.

Outra questão que deve ser entendida é que ninguém chega ao ápice do Naturismo sem que passe pela mais simples curiosidade, a porta de entrada não deve ser fechada, caso contrário, estaremos literalmente comendo as sementes. Então o “estar naturista” tem a sua beleza, possui também a sua inocência. As descobertas nunca são iniciadas de cima para baixo, ou alguém acha que o físico e matemático James Clerk Maxwell estava pensando no rádio, na televisão ou no radar quando rabiscou as equações fundamentais do eletromagnetismo? O próprio ato de se despir de certo modo reflete um rompimento com os padrões sociais que marginaliza o corpo, já é um bom começo.

Conta-se que Buda andou muitos anos em busca da sua iluminação. Ele consultou místicos e sábios; esteve em terras longínquas tentando encontrar o que buscava, até que um dia que ele cansou e chegou à conclusão que não mais adiantava fazer nada porque nunca iria encontrar. Nesse dia, resolveu sentar debaixo de uma árvore e adormeceu. Quando acordou sentiu que estava iluminado e alguém lhe perguntou se era necessário grande esforço para chegar à iluminação. Agora ele estava numa grande enrascada, se ele dissesse que sim estaria mentido porque só atingiu o ápice quando já não havia nenhum esforço; se dissesse que não também estaria mentindo porque ele só atingiu o não esforço com grande esforço.

A história acima nos deixa uma grande lição: Que a busca do “Ser Naturista” deve ser constante, não importa quantos anos de prática o indivíduo possui e sim o estado de consciência que ele consegue atingir com a sua verdade mais fundamental, ou seja, o próprio corpo. O corpo é o fenômeno mais complexo que existe. Nenhuma flor, nenhuma árvore tem um corpo tão bonito quanto o do homem. Nenhuma lua, nenhum sol, nenhuma estrela tem um mecanismo tão evoluído quanto o do homem.

Mas ao ser humano foi ensinado a apreciar a flor, que é uma coisa simples. Foi ensinado a apreciar uma árvore, que é uma coisa simples. Foi até mesmo ensinado a apreciar pedras, rochas, montanhas, rios, mas nunca foi ensinado a respeitar o próprio corpo, a ficar encantado com ele. Se alguém olhar para uma flor, vai dizer: “Que beleza estética!” E se olhar para um belo rosto de mulher, ou de um belo rosto de um homem, as pessoas vão dizer: “Isso é luxúria”. Algo está errado.

Esse erro é corrigido pela prática do Nudismo/Naturismo consciente, onde o corpo é tratado de forma natural, espontâneo. A única condição para que o Nudismo/Naturismo seja de fato algo que traga benefícios mentais e corporais é a manutenção do respeito e o sentimento de admiração; valores bastante esquecidos na atual sociedade, onde a mídia explora a violência e o corpo como um objeto. Por isso fui contra (e continuo sendo) o Pânico na TV em áreas naturistas.

Mesmo que determinados programas e até mesmo entrevistas deixem de ser publicados, ainda assim observo uma pressão muito forte da sociedade contra a própria natureza do corpo humano. Muitos naturistas talvez não consigam perceber, mas eles assumem compromissos de diversas ordens e tratam o Naturismo como um simples laser porque os encontros estão recheados de atividades esportivas, de diversão e pouquíssimas de reflexões da importância do homem se inserir na natureza de todas as coisas.

O artigo “Nudismo/Naturismo é Sinônimo de Preconceito?” de Paula Pedro Martins, faz referência a um estudo da antropóloga Ellen Woodall, que verificou os comportamentos dos nudistas de Miami. A análise revelou que as pessoas tendem a ter um comportamento semelhante ao que mantêm no dia-a-dia. Problemas sexuais, diferenças sociais, coscuvilhices sobre peso, flacidez e aumento dos “dotes pessoais” fazem as delícias das conversas entre nudistas. Com ou sem roupa, os tópicos de assunto são os mesmos. “Os nudistas sempre se consideram progressistas, mas na prática do Nudismo falha ao apregoar o ideal de que todos sejam tratados da mesma forma, independentemente da posição social ou forma do corpo”, critica a investigadora.

No entanto, como também entendo de Estatística, sei perfeitamente que tal pesquisa não representa o universo naturista e não há a mínima condição de se fazer inferências numa amostra tão reduzida. Mas fica um alerta para que possamos não deixar os grupos aqui existentes sem uma conversa séria e responsável; reflexões e debates; incentivos aos estudos e divulgação de livros. Sem isso estaremos indo para o poleiro de cima, mas na mesma gaiola. Temos que nos permitir o conhecimento de novas ideias e realizar questionamentos; sem os quais, a liberdade individual (inata a todo ser humano) torna-se impossível.

Se os naturistas mais antigos estão cansados, se acomodaram e os nossos jovens estão no teclado dos seus celulares, o que podemos esperar para o futuro do Naturismo? Um bando de imbecis despidos. Talvez agora faça mais sentido a afirmação “tem que ser naturista” como aquele que busca o conhecimento e a evolução da sua própria natureza.

A história nos mostra que, à medida que o homem adquire novos conhecimentos, ele modifica a sua maneira de ver a realidade e o universo em que vive. (Quem se Atreve a Ter Certeza? – de Dr. José Pedro Andreeta e Maria de Lourdes Andreeta)


Evandro Telles
24/12/14